Querer d+ da vida!
"Costuma ser assim: as pessoas se conhecem, se encantam uma pela outra, procuram conhecer os amigos, a família, os gostos pessoais, assim descobrir se foram feitos um para o outro, e se unirem para uma vida de felicidades, até que a morte os separe. Bem, para começar, é raro que duas pessoas se unam e sejam felizes até que a morte as separe, e enquanto estão se descobrindo, todo aquele enorme encantamento que sentiram no primeiro encontro começa a complicar. Ela não gosta da mulher do melhor amigo dele - e já começa a implicar - , ele não vai com a cara da irmã dela - e já começa a implicar -, um gosta de churrascaria, o outro, de japonês, e por aí vai. Começa então a tentativa de adaptação, cada um abrindo mão de certas coisas para que a tal da relação dê certo. As concessões que eram feitas nos primeiros dias de namoro com enorme prazer, um ano depois, podem virar motivo de mau humor, e a verdade verdadeira é que ninguém gosta de fazer concessões, cada um só quer fazer o que quer e o que gosta. É da natureza humana, e natural, pois se duas pessoas gostam exatamente das mesmas coisas, das mesmas pessoas, sentem fome e sono sempre na mesma hora, e por aí vai, vira uma monotonia sem fim. Então que tal por uma vez fazer tudo diferente e tentar que tudo dê certo, pelo menos por um tempo? Seria assim: uma mulher e um homem se conhecem, se olham e sentem um total arrebatamento um pelo outro. Nesse momento eles sairiam de onde estivessem e passariam a viver só desse amor, só para esse amor. Iriam morar juntos, sem saber dos defeitos um do outro, se esconderiam do mundo, dos amigos, das famílias, e abririam mão de seus desejos mais intensos para agradar ao outro. Não é assim, quando se ama? E como é assim, não brigariam por nada, não discutiriam por nada, não implicariam com coisa alguma, e a vida seria uma total felicidade _por um tempo, é claro. Mas chegaria o momento em que eles começariam a se conhecer melhor, e o mundo exterior invadiria um mundo que até aquele momento era só deles; com isso viriam as complicações, as de sempre. Teriam que conhecer os amigos e as famílias, chegaria o dia inevitável de um deles _ela_ dizer que tem horror a futebol, e ele dar o troco dizendo que odeia os filmes de Woody Allen que foi obrigado a ver, para lhe fazer a vontade. E chegaria o dia cruel em que falariam pela primeira vez sobre política, e que não iriam votar no mesmo candidato. A partir daí, virariam um casal feliz, desses que se vê por aí. Só que ser apenas feliz, para ela, era pouco. Com uma coragem que nem sabia que tinha, disse a ele que não tinha nascido para ter a chamada vida normal, que ia embora. E ficou espantada - quase decepcionada -, quando ele disse que pensava igual, que estava de acordo. Porque eles tinham vivido momentos tão delirantes, que não poderiam se conformar com menos; no fundo, queriam muito da vida; muito, tudo, tanto, que não aceitavam vivê-la como ela é. E se foram, cada um para seu lado, na procura eterna de outros encontros apaixonantes, mesmo que curtos, sabendo que para encontrá-los passariam longas temporadas inteiramente sós". Danuza Leão
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