
Nas gavetasPor Eliana de Castro *
Preciso dela. Onde deve estar? Não posso acreditar que esqueci onde guardei. Abro a gaveta da cômoda, só blusas de inverno e o cheiro insuportável de naftalina. Essas pedras brancas deixam-me ainda mais descontrolada. Se fossem pedras de crack, talvez fizessem minha angústia ir embora mais rápido. Mas nem coragem para usar drogas eu tenho! E porque acho que é a coragem que leva alguém a se drogar? Olho no banheiro. Em cima da pia só cremes e perfumes. A pasta de dente já acabou há 20 anos e ainda tento espremer não-sei-o-quê. Dentro das gavetas! Não. Nada. A gaveta do guarda-roupa. Tropeço no tênis que tive preguiça de guardar. Reviro algumas calcinhas. A resposta está em minhas calcinhas! Como estão horríveis, ultrapassadas. Faltava estarem rasgadas, como minha alma nesse instante. As calcinhas que tenho usado estão refletindo meu estado de espírito. Perigoso isso. Se a parte de mim, mais íntima, que fica escondida, sempre encontra-se nesse estado, por que ainda não notei meu rosto, meu olhar ou meus cabelos? Não. Meus cabelos estão sempre lindos. Cuido tanto deles, meia hora do meu dia, todos os dias. É verdade, não posso comparar minha alma com meus cabelos. A caixa de remédios. Pode ser que esteja lá. Sempre a procuro nesses momentos, então, não há lugar melhor para estar guardada. Mas se tiver acabado? Calma. Cadê a caixa de remédios? Banheiro novamente.
Preciso dela. Onde deve estar? Não posso acreditar que esqueci onde guardei. Abro a gaveta da cômoda, só blusas de inverno e o cheiro insuportável de naftalina. Essas pedras brancas deixam-me ainda mais descontrolada. Se fossem pedras de crack, talvez fizessem minha angústia ir embora mais rápido. Mas nem coragem para usar drogas eu tenho! E porque acho que é a coragem que leva alguém a se drogar? Olho no banheiro. Em cima da pia só cremes e perfumes. A pasta de dente já acabou há 20 anos e ainda tento espremer não-sei-o-quê. Dentro das gavetas! Não. Nada. A gaveta do guarda-roupa. Tropeço no tênis que tive preguiça de guardar. Reviro algumas calcinhas. A resposta está em minhas calcinhas! Como estão horríveis, ultrapassadas. Faltava estarem rasgadas, como minha alma nesse instante. As calcinhas que tenho usado estão refletindo meu estado de espírito. Perigoso isso. Se a parte de mim, mais íntima, que fica escondida, sempre encontra-se nesse estado, por que ainda não notei meu rosto, meu olhar ou meus cabelos? Não. Meus cabelos estão sempre lindos. Cuido tanto deles, meia hora do meu dia, todos os dias. É verdade, não posso comparar minha alma com meus cabelos. A caixa de remédios. Pode ser que esteja lá. Sempre a procuro nesses momentos, então, não há lugar melhor para estar guardada. Mas se tiver acabado? Calma. Cadê a caixa de remédios? Banheiro novamente.
Entro e olho-me no espelho. Meus cabelos estão lindos mesmo! Por segundos esqueço a taquicardia e a respiração cortada. Um dia eu decidi cuidar dos meus cabelos porque os queria muito longos. Cabelos longos e feios não dariam. Teriam de ser aqueles de top models. Naturalmente despenteados, porém gritando saúde. E meus cabelos gritariam por mim, toda a felicidade de meu coração, todo o amor e paixão que correm no meu sangue. Deixa de pensar idiotices. Minha alma querendo drogas e eu tentando acreditar que meus cabelos mostram meu lado feliz. Que lado? Cadê as drogas? Cadê a caixinha de remédios, na verdade! Estou ficando louca. Ou será que estou pensando seriamente em usar drogas? Não. Pára. Eu mesma sofreria com isso. Quero acabar com um problema ou não? Não está parecendo. Que vontade de chorar. Chorar nem pensar! E as olheiras? Será que já notaram meu desespero? Essa coisa que dizem de que os olhos espelham a alma... Vou embaçar meus olhos. Olho no espelho e falo perto dele "cadê você?" com todo o ódio que vem do meu intestino.
Abro a porta do armário e a vejo. Tão quieta, como se estivesse escondendo-se de mim, como se quisesse impedir minha melhora. Ou será que, olhando de fora, a caixinha percebe que estou procurando a solução no lugar errado? Tiro a tampa e vejo somente aspirinas, antiinflamatórios, paracetamol e anticoncepcionais. Mania de comprar muitas caixas de anticoncepcionais. Não está. Droga! Não. Não estou querendo drogas, estou dizendo "que droga", porque não consigo encontrar. Na cozinha. Mas na cozinha? Vou para a cozinha. Na fruteira. Só mamões, maçãs, limões. Os limões chamam-me mais a atenção. Estou verde, azeda e sou capaz de espirrar no olho de qualquer pessoa que pensar em encostar a mão em mim.
Desisto. Começo a chorar. Puxo o banquinho e sento. Fico olhando para os limões e decido respirar fundo. Tenho que resolver isso de qualquer jeito, com ela ou sem ela. E fico ali por alguns minutos, ou talvez horas. Não sei. Não me interessa saber. Puxo uma mecha do meu cabelo e começo a enrolá-la no meu dedo. Chorando. Minhas calcinhas estão feias! E sempre acreditei que calcinhas bonitas, mesmo ninguém sabendo que são, é o símbolo maior do amor próprio. Importa-me somente que eu saiba que elas são lindas. Minhas calcinhas estão assim há quanto tempo? Eu não quero usar drogas. Não me sinto nem um pouco atraída por seu efeito, mesmo nunca tendo conhecido seu efeito. Estou sentindo pena de mim mesma, por isso pensei nisso. Nossa, que ridícula! E esses limões, porque olham tanto para mim? Só podem estar achando-me parecida com eles. É até cômico. Acho que vou dizer isso sempre que me sentir assim. "Oi, pareço-me um limão hoje, né?" Onde será que eu a deixei? Credo! Tantos pensamentos de uma vez só. Respira fundo. Isso. Calma. Onde eu deixei a paz?
texto by: http://www.doqueelasgostam.com.br
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